O Império Khmer floresceu entre
os séculos IX e XV na região onde atualmente está situado Camboja, ocupando
regiões que fazem parte da Tailândia, de Laos e do sul do Vietnã. Essa cultura se
estabeleceu com elementos locais fortemente influenciados pelas civilizações hindu
e chinesa, trazida por conquistadores e comerciantes que lá se estabeleceram. Em
seu apogeu, no século XIII, ele dominou todo o Camboja até Mianmar, parte do
Laos e quase toda a península da Malásia. Os khmer foram capazes de erguer uma
megalópole de 1000 km2. A cidade de Angkor foi, até a Revolução
Industrial, no século XIX, a maior do mundo.
Mapa do território ocupado pelo Império Khmer
A região ficava a uma distância
segura das disputas travadas por duas antigas civilizações locais, os funan e
os chenla, que habitavam outras partes do país. Os javaneses, no entanto,
brigavam constantemente com os khmer por causa de terras.
A situação piorou quando um jovem
príncipe khmer, Jayavarman II, foi capturado pelos governantes da ilha de Java.
Após alguns anos, o nobre conseguiu voltar para o Camboja. Pouco tempo após seu
retorno, houve uma batalha no golfo da Tailândia, da qual o príncipe saiu
vencedor. Ele então unificou o reino e lançou as bases do futuro império.
Uma de suas primeiras
providências foi mandar construir uma capital, Hariharalaya, hoje desaparecida,
perto do que mais tarde seria a impressionante Angkor. A cidade ficava no topo
de uma montanha, local que, segundo a crença local, era onde moravam os
espíritos e os deuses.
Os khmer passam a viver um
período de glória. Em uma região que atravessava anualmente meses de seca por
causa das monções, ventos terríveis que assolam a Ásia, os reis do século IX
perceberam que era fundamental criar um sistema de irrigação eficiente, que
proporcionasse água o ano todo. Teve início, então, a construção de uma
sofisticada rede de canais e reservatórios que permitiam a irrigação constante
das plantações de arroz, o principal alimento da população – e a maior riqueza
dos khmer.
O engenho da inovação consistia
basicamente em garantir o abastecimento de água para além das monções através
de grandes represas para possibilitar o plantio de duas safras anuais: a primeira
antecipada a partir de mudas previamente plantadas em viveiros e a segunda
plantada no mesmo campo e pouco antes da primeira colheita. Com isto, os khmer
puderam duplicar a produção agrícola e pecuária, motor primário do seu
desenvolvimento urbano.
Digno de nota foi a solução para
construir grandes reservatórios de água naquele relevo quase plano em meio à
selva: fizeram-no simplesmente construindo barragens de pequena altura mas
cercando uma extensa área na qual a selva continuava intacta. Assim cada
reservatório destes armazenava uma grande quantidade de água durante as chuvas
das monções que irrigava os campos agrícolas adjacentes logo abaixo.
O primeiro grande reservatório,
de quase 5 km2e com capacidade para até 8 milhões de litros cúbicos
de água, foi construído por volta de 877 pelo rei Indravarman I. Ele aproveitou
para expandir os domínios do reino, sem provocar muito alarde, até a fronteira
com a Tailândia. Mais importante: o monarca desenvolveu o projeto inicial da
gigantesca nova capital em um local ainda mais privilegiado – entre o lago
Tonlé Sap e as montanhas, onde a água era mais abundante. Da tecnologia
empregada em Angkor derivou toda a prosperidade agrícola da planície cambojana
– local que já era naturalmente irrigado, mas onde os níveis dos rios flutuavam
muito. Controlados com o sofisticado sistema de lagos artificiais e canais,
esses rios foram capazes de produzir solos com imensa fertilidade.
O sistema de águas de Angkor,
controlado pelo rei, era encarado pela população com reverência religiosa. O
rei passou a ser visto como um deus, já que era o fornecedor da divina água. Os
diversos templos e palácios da capital do império foram levantados, assim, como
expressão dessa devoção. Angkor Wat foi erguido pelo rei Suryavarman II durante
o século XII e é considerado um dos maiores edifícios religiosos do mundo. Foi
dedicado à deidade hinduísta Vishnu.
Acredita-se que na construção deste templo foi utilizada a mesma quantidade de pedras que na construção da grande pirâmide egípcia de Keops. Ele possui paredes esculpidas que narram histórias da mitologia hinduísta. Sua organização espacial representa o Monte Meru, que, segundo a mitologia hinduísta, é o centro do universo e moradia dos deuses. O Monte Meru é representado pela torre central, rodeado por quatro picos menores (torres secundárias) que por sua vez são rodeados pelos continentes (pátios mais baixos) e pelos oceanos (canais que envolvem o complexo).Sua posição, voltada para oeste e não para leste, como era comum, indica o possível uso que o monarca faria dele: seu templo mortuário – segundo a mitologia indochinesa, oeste é a direção para onde os mortos caminham.
Imagem do deus hindu Vishnu em Angkor Wat
Acredita-se que na construção deste templo foi utilizada a mesma quantidade de pedras que na construção da grande pirâmide egípcia de Keops. Ele possui paredes esculpidas que narram histórias da mitologia hinduísta. Sua organização espacial representa o Monte Meru, que, segundo a mitologia hinduísta, é o centro do universo e moradia dos deuses. O Monte Meru é representado pela torre central, rodeado por quatro picos menores (torres secundárias) que por sua vez são rodeados pelos continentes (pátios mais baixos) e pelos oceanos (canais que envolvem o complexo).Sua posição, voltada para oeste e não para leste, como era comum, indica o possível uso que o monarca faria dele: seu templo mortuário – segundo a mitologia indochinesa, oeste é a direção para onde os mortos caminham.
Angkor Wat e o fosso que o cerca
Historiadores acreditam que
Angkor Wat seja o começo do fim do império. Os esforços para a construção do
templo teriam sido custosos demais para os cofres. E os valores normalmente
aplicados no sistema de irrigação teriam sido desviados para o levantamento do
santuário.
Angkor Wat
Além de outros aspectos
culturais, os Khmer foram fortemente influenciados pela religião Hindu a ponto
de adoptarem todo o panteão de deuses e respectivos rituais. Até mesmo o nome
dos soberanos era talhado em sânscrito e invariavelmente terminavam com o
sufixo varmam que significa protegido de. (v.g. Surya Varman = Protegido pelo
Sol).
Depois da morte de Suryavarman
II, a cidade foi saqueada pela primeira vez em 1177 pelo povo do reino de
Champa, no atual Vietnã – que não via a hora de tirar seu quinhão dos ricos
vizinhos. A invasão abalou a confiança dos khmer nas forças protetoras de suas
divindades. O filho de Suryavarman, Jayavarman VII, subiu ao trono e herdou um
reino despedaçado. Em 1181, conseguiu expulsar os inimigos. E, com mais de 60
anos, começou uma campanha para expandir as fronteiras do império.
Templo Bakong foi construído inspirado no Monte Meru em homenagem ao deus Shiva
Vencendo batalha após batalha, o
Império Khmer dominou toda a Malásia, parte do Laos e de Mianmar. Num surto
megalomaníaco, acreditando ser o maior dos reis khmer, Jayavarman resolveu
construir sua própria cidade, Angkor Thom, a nova capital. No meio dela, ergueu
o maior templo que os khmer já tinham visto, Bayon – e o dedicou não aos deuses
hindus, como era costume, e sim a divindades budistas. Embora o budismo
convivesse com o hinduísmo até então, ele nunca havia sido adotado como
religião oficial. Os complexos sistemas de irrigação foram feitos também na
nova capital.
Esculturas do Templo Bayon representando o bodhisattva Avalokiteshvara
Com passar dos anos Angkor Thom tornou-se
um importante centro comercial visitado por povos estrangeiros, como chineses e
indianos. As mulheres tinham grande participação nessas atividades e chegavam a
ocupar posição de destaque entre os khmer. Muitas delas eram responsáveis pelo
controle de importantes cargos públicos do império. Em meio a tantas conquistas
e uma ampla rede sócio-econômica o Império khmer parecia não sofrer qualquer
tipo de ameaça.
A decadência do império começou
devido a uma série de problemas, mas a falta de fontes de informação dificulta
entender o por quê. Sabe-se que um dos problemas que podem ter levado a isso
era eles não possuíam um sistema político bem-organizado – regras de sucessão
ao trono simplesmente não existiam. O rei tinha inúmeros filhos, e qualquer um
deles, não apenas o primogênito, poderia sucedê-lo. Os resultados foram
constantes brigas entre príncipes para chegar ao poder.
Além disso, no século 13 ele
passou a ser mais atacado pela Tailândia e pelo Vietnã, e a cidade de Angkor
Thom começou a ser saqueada com alguma frequência. Em 1431, os tailandeses
roubaram toda a capital e as lutas internas pelo poder no reino tornaram mais
difícil uma união para vencer o inimigo.
Acredita-se também que a obsessão
por dominar a natureza possa ter passado dos limites, com o sistema hidráulico
acabando por provocar um enfraquecimento do terreno. Arqueólogos vêm
encontrando sinais de erosão que comprovam perda de fertilidade do solo e
excesso de desmatamento. Até o nível de um rio, o Siem Reap, pode ter baixado a
ponto de torná-lo inadequado para irrigação. A hipótese mais provável é que tenha
havido um colapso no sistema de abastecimento de água.
Fontes:
http://www.historiadomundo.com.br/idade-media/povo-khmer.htm
http://www.cambodia-travel.com/khmer-civilization.htm
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/khmer-imperio-perdido-435905.shtml
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