17 de ago. de 2012

Império Khmer

Raízes para a elaboração de uma arte.



O Império Khmer floresceu entre os séculos IX e XV na região onde atualmente está situado Camboja, ocupando regiões que fazem parte da Tailândia, de Laos e do sul do Vietnã. Essa cultura se estabeleceu com elementos locais fortemente influenciados pelas civilizações hindu e chinesa, trazida por conquistadores e comerciantes que lá se estabeleceram. Em seu apogeu, no século XIII, ele dominou todo o Camboja até Mianmar, parte do Laos e quase toda a península da Malásia. Os khmer foram capazes de erguer uma megalópole de 1000 km2. A cidade de Angkor foi, até a Revolução Industrial, no século XIX, a maior do mundo.


Mapa do território ocupado pelo Império Khmer

A região ficava a uma distância segura das disputas travadas por duas antigas civilizações locais, os funan e os chenla, que habitavam outras partes do país. Os javaneses, no entanto, brigavam constantemente com os khmer por causa de terras.
A situação piorou quando um jovem príncipe khmer, Jayavarman II, foi capturado pelos governantes da ilha de Java. Após alguns anos, o nobre conseguiu voltar para o Camboja. Pouco tempo após seu retorno, houve uma batalha no golfo da Tailândia, da qual o príncipe saiu vencedor. Ele então unificou o reino e lançou as bases do futuro império.
Uma de suas primeiras providências foi mandar construir uma capital, Hariharalaya, hoje desaparecida, perto do que mais tarde seria a impressionante Angkor. A cidade ficava no topo de uma montanha, local que, segundo a crença local, era onde moravam os espíritos e os deuses.
Os khmer passam a viver um período de glória. Em uma região que atravessava anualmente meses de seca por causa das monções, ventos terríveis que assolam a Ásia, os reis do século IX perceberam que era fundamental criar um sistema de irrigação eficiente, que proporcionasse água o ano todo. Teve início, então, a construção de uma sofisticada rede de canais e reservatórios que permitiam a irrigação constante das plantações de arroz, o principal alimento da população – e a maior riqueza dos khmer.  
O engenho da inovação consistia basicamente em garantir o abastecimento de água para além das monções através de grandes represas para possibilitar o plantio de duas safras anuais: a primeira antecipada a partir de mudas previamente plantadas em viveiros e a segunda plantada no mesmo campo e pouco antes da primeira colheita. Com isto, os khmer puderam duplicar a produção agrícola e pecuária, motor primário do seu desenvolvimento urbano.
Digno de nota foi a solução para construir grandes reservatórios de água naquele relevo quase plano em meio à selva: fizeram-no simplesmente construindo barragens de pequena altura mas cercando uma extensa área na qual a selva continuava intacta. Assim cada reservatório destes armazenava uma grande quantidade de água durante as chuvas das monções que irrigava os campos agrícolas adjacentes logo abaixo.
O primeiro grande reservatório, de quase 5 km2e com capacidade para até 8 milhões de litros cúbicos de água, foi construído por volta de 877 pelo rei Indravarman I. Ele aproveitou para expandir os domínios do reino, sem provocar muito alarde, até a fronteira com a Tailândia. Mais importante: o monarca desenvolveu o projeto inicial da gigantesca nova capital em um local ainda mais privilegiado – entre o lago Tonlé Sap e as montanhas, onde a água era mais abundante. Da tecnologia empregada em Angkor derivou toda a prosperidade agrícola da planície cambojana – local que já era naturalmente irrigado, mas onde os níveis dos rios flutuavam muito. Controlados com o sofisticado sistema de lagos artificiais e canais, esses rios foram capazes de produzir solos com imensa fertilidade.
O sistema de águas de Angkor, controlado pelo rei, era encarado pela população com reverência religiosa. O rei passou a ser visto como um deus, já que era o fornecedor da divina água. Os diversos templos e palácios da capital do império foram levantados, assim, como expressão dessa devoção. Angkor Wat foi erguido pelo rei Suryavarman II durante o século XII e é considerado um dos maiores edifícios religiosos do mundo. Foi dedicado à deidade hinduísta Vishnu. 


Imagem do deus hindu Vishnu em Angkor Wat

Acredita-se que na construção deste templo foi utilizada a mesma quantidade de pedras que na construção da grande pirâmide egípcia de Keops. Ele possui paredes esculpidas que narram histórias da mitologia hinduísta. Sua organização espacial representa o Monte Meru, que, segundo a mitologia hinduísta, é o centro do universo e moradia dos deuses. O Monte Meru é representado pela torre central, rodeado por quatro picos menores (torres secundárias) que por sua vez são rodeados pelos continentes (pátios mais baixos) e pelos oceanos (canais que envolvem o complexo).Sua posição, voltada para oeste e não para leste, como era comum, indica o possível uso que o monarca faria dele: seu templo mortuário – segundo a mitologia indochinesa, oeste é a direção para onde os mortos caminham.



Angkor Wat e o fosso que o cerca

Historiadores acreditam que Angkor Wat seja o começo do fim do império. Os esforços para a construção do templo teriam sido custosos demais para os cofres. E os valores normalmente aplicados no sistema de irrigação teriam sido desviados para o levantamento do santuário.


Angkor Wat

Além de outros aspectos culturais, os Khmer foram fortemente influenciados pela religião Hindu a ponto de adoptarem todo o panteão de deuses e respectivos rituais. Até mesmo o nome dos soberanos era talhado em sânscrito e invariavelmente terminavam com o sufixo varmam que significa protegido de. (v.g. Surya Varman = Protegido pelo Sol).
Depois da morte de Suryavarman II, a cidade foi saqueada pela primeira vez em 1177 pelo povo do reino de Champa, no atual Vietnã – que não via a hora de tirar seu quinhão dos ricos vizinhos. A invasão abalou a confiança dos khmer nas forças protetoras de suas divindades. O filho de Suryavarman, Jayavarman VII, subiu ao trono e herdou um reino despedaçado. Em 1181, conseguiu expulsar os inimigos. E, com mais de 60 anos, começou uma campanha para expandir as fronteiras do império.


Templo Bakong foi construído inspirado no Monte Meru em homenagem ao deus Shiva

Vencendo batalha após batalha, o Império Khmer dominou toda a Malásia, parte do Laos e de Mianmar. Num surto megalomaníaco, acreditando ser o maior dos reis khmer, Jayavarman resolveu construir sua própria cidade, Angkor Thom, a nova capital. No meio dela, ergueu o maior templo que os khmer já tinham visto, Bayon – e o dedicou não aos deuses hindus, como era costume, e sim a divindades budistas. Embora o budismo convivesse com o hinduísmo até então, ele nunca havia sido adotado como religião oficial. Os complexos sistemas de irrigação foram feitos também na nova capital.


Esculturas do Templo Bayon representando o bodhisattva Avalokiteshvara

Com passar dos anos Angkor Thom tornou-se um importante centro comercial visitado por povos estrangeiros, como chineses e indianos. As mulheres tinham grande participação nessas atividades e chegavam a ocupar posição de destaque entre os khmer. Muitas delas eram responsáveis pelo controle de importantes cargos públicos do império. Em meio a tantas conquistas e uma ampla rede sócio-econômica o Império khmer parecia não sofrer qualquer tipo de ameaça.
A decadência do império começou devido a uma série de problemas, mas a falta de fontes de informação dificulta entender o por quê. Sabe-se que um dos problemas que podem ter levado a isso era eles não possuíam um sistema político bem-organizado – regras de sucessão ao trono simplesmente não existiam. O rei tinha inúmeros filhos, e qualquer um deles, não apenas o primogênito, poderia sucedê-lo. Os resultados foram constantes brigas entre príncipes para chegar ao poder.
Além disso, no século 13 ele passou a ser mais atacado pela Tailândia e pelo Vietnã, e a cidade de Angkor Thom começou a ser saqueada com alguma frequência. Em 1431, os tailandeses roubaram toda a capital e as lutas internas pelo poder no reino tornaram mais difícil uma união para vencer o inimigo.
Acredita-se também que a obsessão por dominar a natureza possa ter passado dos limites, com o sistema hidráulico acabando por provocar um enfraquecimento do terreno. Arqueólogos vêm encontrando sinais de erosão que comprovam perda de fertilidade do solo e excesso de desmatamento. Até o nível de um rio, o Siem Reap, pode ter baixado a ponto de torná-lo inadequado para irrigação. A hipótese mais provável é que tenha havido um colapso no sistema de abastecimento de água.

Fontes:
http://www.historiadomundo.com.br/idade-media/povo-khmer.htm
http://www.cambodia-travel.com/khmer-civilization.htm
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/khmer-imperio-perdido-435905.shtml

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