12 de set. de 2012

Religião e prática marcial


            Como podemos verificar na nossa sociedade a busca por práticas ditas marciais, na sua grande maioria, se mantém atrelada ao aprimoramento físico, mas, sobretudo a busca de um “belo corpo”. Podemos verificar que as artes marciais entraram na categoria de atividades desportivas, fazendo com que as mesmas perdessem parte de sua tradição filosófica, diretamente vinculada a questões de caráter religioso.
Embora as técnicas de combate corpo a corpo tenham sido desenvolvidas em um período que nos foge o alcance, o Oriente Asiático acabou se tornando a referência para as sociedades ocidentais no que diz respeito às artes marciais. As técnicas de condicionamento e as demonstrações de sequências artísticas sempre chamaram muito a atenção dos espectadores, que ao se tornarem praticantes buscaram o ápice do aperfeiçoamento físico e técnico. No entanto, o contexto histórico-social dos sujeitos do ocidente fez com que os valores culturais, nos quais as artes marciais foram idealizadas, se adequassem aos interesses políticos distintos de cada território.
 Sendo assim, o que verificamos atualmente são inúmeros estilos de combate que se desvincularam de suas origens, sem que com isso se desvinculassem completamente de elementos gestuais que caracterizam a relevância que a prática religiosa detinha para essas artes marciais. Como exemplo, podemos citar a saudação que direcionamos a imagem de um Mestre, ou em alguns casos para figuras históricas que, associadas à narrativa mítica, foram consideradas enquanto patriarcas de diversos estilos marciais. Casos célebres, e que praticamente todas as pessoas já ouviram falar, seriam os do monastério de Shaolin ou os de Wudang que eram centros religiosos que desenvolviam o aperfeiçoamento mental através do budismo e do taoísmo, respectivamente, mas também eram locais de práticas marciais.
Atualmente, artes marciais como o Karate, o Taekwondo, o Muay Thai, o Aikido, o Ninjutsu, o Kung-Fu, entre outras, que mesmo sendo detentoras de inúmeras vertentes e estilos, efetuam reverências aos seus patriarcas, mestres e fundadores como um meio de honrá-los pelo esforço de manter esse conhecimento vivo. Os preceitos de não-violência, equilíbrio mente-corpo, complementaridade yin/yang e técnicas meditativas ainda presentes em muitas artes marciais, também são inspirados em preceitos taoístas e budistas.


Devemos observar, por fim, que independentemente dos ideais religiosos que levaram à origem da arte marcial, o fato de ser um praticante da mesma não pressupõe prática de alguma religião oriental, seja ela qual for. Logo, não há qualquer adesão compulsória ou interação, seja ela positiva ou negativa, entre a religião escolhida pelo praticante e aquela que influenciou a origem da arte. Porém, devemos respeitar e procurar preservar esses ideais, visto que eles ultrapassaram inúmeras gerações até hoje e são características intrínsecas de cada arte.



Fontes de consulta

ALMEIDA, João Miguel. 2004. Artes marciais e Universos Religiosos. Lusitania Sacra, 16(2): 511-518.
APOLLONI, Rodrigo Wolff. 2004. Shaolin à Brasileira: Estudo Sobre a Presença e a Transformação de Elementos Religiosos Orientais no Kung-Fu Praticado no Brasil. Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
COSTA, Matheus Oliva. 2011. Religiosidade Oriental e Artes Marciais: um estudo de caso dos praticantes de Jeet Kune Do. Anais do XII Simpósio da ABHR.
http://www.usashaolintemple.org/chanbuddhism-history/
http://www.daissen.org.br/hp/index.php?id=0&s=textos&txt_id=69
http://www.foosuee.com.br/index.php/liturgia/budismo/zen-budismo

2 comentários:

  1. Fico feliz que você tenha gostado!!! Cê sabe que a sua aprovação é essencial. E mais uma vez, muito obrigada pelo convite e pela oportunidade de poder pesquisar mais e me expressar.

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